Coisas de "Dona Morte"

Um dia eu acordei para descobrir que iria morrer. Obviamente que todos morremos um dia, eu teria que ser um tanto quanto burra para descobrir isso assim, do nada, aos 31 anos de idade...
Mas o problema é que eu descobri que ia morrer LOGO!
Oh! Qual não foi o meu susto. A parte boa da má notícia é que tinha cura!
Vamos aos fatos. A minha obesidade ia me matar. Então, eu decidi matá-la antes.
Por duas razões bem simples, e porque não, toscas.
A primeira razão é que eu tenho que fazer um mestrado. Não posso morrer sem esse certificado! Por questões pessoais e intransferíveis, eu fiz essa promessa à minha avó. E sem cerimônia, religião, promessa pro santo ou afins, é apenas uma questão de fazer algo de fato. É uma questão de cumprir uma promessa feita à minha avó e ponto.
A segunda razão é que quero conhecer partes bem básicas da Europa, e quero fazer isso com meu corpo. Porque meu ceticismo pode até deixar a idéia do espírito vagando concebida, mas quando eu morrer - de verdade - eu quero mais é ir para um lugar bem longe dessa vida térrea inóspita.
Mas voltando ao assunto da morte. Tem gente que muda quando descobre que vai morrer. Eu mudei porque eu descobri que poderia viver. E resolvi ser gentil com meu nobre coração, afinal ele já bateu tanto por mim e continua lá, firme e forte, trabalhando todos os dias. O mínimo que eu posso fazer por ele, a essa altura da minha vida, é cooperar com ele para que eu possa, enfim, levar a cabo minhas pendências de vida. Tudo se trata de uma troca, eu melhoro as condições de vida do meu amigo aqui dentro, e ele me proporciona mais alguns anos de vida para que eu possa terminar e fazer tudo que eu tenho, ou não, pendente.
A questão é que, invariavelmente, eu tive que tomar essa séria decisão na minha vida, e mesmo sendo uma "gordinha feliz", eu não era inteiramente satisfeita. Não que eu acredite em estética física, mas eu forçadamente passei a acreditar em saúde. E quão necessária ela se faz na minha vida, e claro, na dos outros também.
Sem contar que ninguém mais precisará de eufemismos para se dirigir à minha pessoa!! Mesmo porque quando se é gorda, as pessoas te chamam e lembram de você exatamente por isso, por você ser gorda. Parece que você não é mais nada, você é apenas "aquela gorda"...
Vai me dizer que você nunca se referiu à uma pessoa obesa assim?
A: "Lembra da Fulana?"
B: "Não, qual Fulana?"
A: "Aquela gorda..."
Não tenha pena, gordura é falta de vergonha na cara, é falta de força de vontade, é gula, é feio e só depende da própria pessoa voltar a ser magra. Ou você já ouviu falar em algum bebê obeso???
Sim, a questão é que, escolhendo por me manter viva, percebo agora, quase 10 kg mais magra, que muitas coisas foram mudando. De forma sutil e delicada, minha vida se tornou... outra!
Ainda faltam MUITOS quilos para perder, mas a base de tudo já está firmada. As mudanças já aconteceram. E vista por esse ângulo, Dona Morte, de certa forma, me trouxe muitas coisas boas.

1. Nunca imaginei que pedalar 30 km e correr 15 minutos diariamente fosse me deixar, de fato, mais feliz.
2. Não me lembro mais como é um supermercado. Faço minhas compras no Varejão perto aqui de casa.
3. E por falar em compras, também nunca pensei que pudesse encher a geladeira com menos de 50 reais. Frutas, verduras, legumes, iogurtes e ricota (minha alimentação básica) saem em média por R$ 35,00 por semana. Isso quer dizer que com menos de R$ 150,00 por mês eu me alimento de forma completa, saudável e ainda mando Dona Morte para mais alguns anos pra frente.
4. Bebidas alcoólicas não fazem falta quando se tem um objetivo.
5. McDonalds não faz falta quando suas calças estão ficando cada vez mais largas.
6. Exercícios físicos fazem, de fato, uma pessoa mais feliz.
7. Subir os 3 andares do meu prédio não é mais penoso!!!!!!!!!!! Mas carregando as frutas, verduras, legumes, iogurtes e queijo é sim!!! rsrsrsrs
8. A estima agradece.
9. O coração agradece.
10. A pressão sanguínea agradece. (Com 30 dias de exercícios e quase 10 kg a menos a pressão caiu de 13 por 9 para 11 por 7!!!)
11. E só para variar é bom olhar no espelho e ver que, após 31 anos de existência, eu finalmente peguei as rédeas do meu corpo e disse: "Opa, pera lá. Quem manda aqui sou eu!"

Bem, eufemismos à parte, espero que após esse longo, difícil e muitas vezes desgastante regime as pessoas passem a se referir a mim com algo mais... Belo!

Vou dormir. Boa noite!
E para quem pensa em perder peso: Força.
Os resultados são MUITO mais gratificantes que qualquer artefato gastronômico.
E ao invés de ser "aquele gordinho", você pode ser "aquele gostoso".
Hehehehehehe!